quarta-feira, 30 de março de 2011

Raul Seixas - Abre-te Sésamo

Vou inaugurar essa categoria musical do blog, "A Vida em Rabiscos", falando dos "Rabiscos Musicais" daquele que para mim, é a mente mais brilhante de todos os tempos na música Brasileira. Não, não foi. É.

Se Elvis não morreu, Raul Seixas muito menos.

Quem me conhece, mesmo que há dois dias, sabe, com certeza, da minha paixão por Raul Seixas, portanto, vou pular toda a parte óbvia, não vou escrever aqui a biografia do camarada...

Eu não tenho um álbum preferido de Raul, eu prefiro todos, cada um em um momento diferente. Todos são bons, e cada um deles tem algo importante a dizer, portanto, não foi fácil para mim, escolher por onde começar.

Escolhi "Abre-te Sésamo", um álbum de 1980, que por qualquer razão, é o álbum de Raul que mais tenho ouvido ultimamente.


Artista: Raul Seixas
Nome do Álbum: Abre-te Sésamo
Ano de Lançamento: 1980

Tracklist (LP):
Lado A:

1- ABRE-TE SÉSAMO (Raul Seixas/ Cláudio Roberto)
2- ALUGA-SE ( Raul Seixas/ Cláudio Roberto)
3- ANOS 80 (Raul Seixas/ DeDé Caiano)
4- ANGELA (Raul Seixas/ Cláudio Roberto)
5- CONVERSA PRA BOI DORMIR ( Raul Seixas)
6- MINHA VIOLA (Raul Varella Seixas)

Lado B:

7- ROCK DAS "ARANHA" (Raul Seixas/ Cláudio Roberto)
8- O CONTO DO SABIO CHINÊS ( Raul Seixas)
9- SÓ PRÁ VARIAR (Raul Seixas/ Kika Seixas/ Cláudio Roberto)
10- BABY (Raul Seixas/ Cláudio Roberto)
11- Ê MEU PAI (Raul Seixas/ Cláudio Roberto)
12- À BEIRA DO PANTANAL (Raul Seixas / Cláudio Roberto)


Como qualquer outro álbum de Raul, será redundante dizer que é um álbum FANTÁSTICO.

Este álbum conta em sua maioria, com a parceria de Cláudio Roberto, grande parceiro de composições de Raul.

Mas, também conta com uma lindíssima música, chamada "Minha Viola", de autoria do pai de Rauzito, o Raul Varella Seixas.

"Minha Viola", aliás, é das músicas que eu mais gosto desse álbum, é uma lindíssima moda de Viola, que conta a história de alguém que saiu do sertão apenas com uma viola, dada pelo seu pai.

Conta com lindíssimos versos, como esses, que juntamente com aqueles acordes de viola, fazem até arrepiar:

"E quando a tarde vai morrendo,
Vou pegando minha viola.
Se estou triste e sofrendo,
Ela é quem me consola.
Cada nota é um gemido.
Cada gemido é uma saudade.
De saudade estou perdido,
Viola, nessa eterna "solidade"."

Além dessa música, há outra que não foi composta com Cláudio, e sim com Dedé Caiano, que era irmão de Sérgio Sampaio, com quem Raul Seixas fez o álbum "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10", quando era produtor. Fizeram esse álbum "escondido" e sem autorização, o que o fez ser despedido, ná época, mas, isso é outra história, que contarei em outra altura.


A música em parceria com Dedé, chama-se "Anos 80", e é um retrato antecipado e debochado da sociedade "oitentista", que por acaso, deu frutos...

Pobre país carregador
Dessa miséria dividida
Entre Ipanema
E a empregada do patrão
Varrendo lixo
Prá debaixo do tapete
Que é supostamente persa
Prá alegria do ladrão



O restante das músicas, são quase todas em parceria com Cláudio - menos "O conto do Sábio Chinês e Conversa prá Boi Dormir, que são de Raul sozinho -, aliás, muitas pérolas, muitos "Hits". Entre eles, as famosas "Aluga-se", "Só prá Variar" e "Rock das Aranha" (essas eu creio que todo mundo conhece, por isso, não preciso falar muito delas, não é?), que sofreu censura na época, pois como dizia Raul, a censura andava sempre procurando saber do que é que ele falava, para pode censurar. Na época, era sexo o assunto "proibido".

Além dessas mais conhecidas, esse álbum conta com outras "pérolas desconhecidas", como "À Beira do Pantanal", uma canção completamente "dark", que conta com versos como esse:

Foi lá na beira do Pantanal
Seu corpo tão belo enterrei
Foi lá que eu matei minha amada
Sua voz na lembrança eu guardei:
"Por que, meu querido
Por que, meu amor
Cravaste em mim teu punhal?
Meu peito tão jovem sangrando assim
Por que esse golpe mortal?"

Em "O Conto do Sábio Chinês", ficamos a conhecer a confusão de um homem (?), que não sabe se sonha ser uma borboleta, ou se é uma borboleta sonhando ser um sábio chinês...

Em "Abre-te Sésamo" temos o famoso Raul "gozador", que diz tudo de maneira "engraçada", como no verso:

Lá vou eu de novo
Brasileiro, brasileiro nato
Se eu não morro eu mato
Essa desnutrição
Minha teimosia
Braba de guerreiro
É que me faz o primeiro
Dessa procissão...

Em "Conversa prá Boi dormir", mais do Raul Sarcástico e Gozador:

Jota batista batizou Jesus,
De água e sal e o sinal da cruz.
Com a profecia que já "tava" esquecida,
Para que seu povo encontrasse a luz!

Há quanto tempo que o brasil não ganha?
Isso é conversa para boi dormir!
Espero em Deus, porque ele é brasileiro,
Pra trazer o progresso que eu não vejo aqui.

"Ê meu pai", É uma batucada simples, que pede sempre ao "pai" que lhe dê forças, no momento em que ele precisar...

"Baby" é uma canção que fala de sexo também (e provavelmente nos dias de hoje, seria enquadrada como pedofilia, pelo seu verso inicial, onde menciona "hoje cê faz treze anos"), mas,  "passou batida" pela censura, que preferiu pegar no pé de "Rock das Aranha", uma canção mais "engraçada".

Baby,
A madre da escola te ensina,
A reconhecer o pecado,
E o que você sente é ruim
Mas, baby, baby, Deus não é tão mal assim


"Ângela" é uma declaração de amor (mas, conta também com conotações bastantes sexuais na letra) à sua mulher, Kika, que participa também nesse álbum, sendo co-compositora de "Só prá Variar"

Eu que me achava o rei do fogo e dos trovões
Eu assisti meu trono desabar 
Cedendo as tentações, as tentações de
Ângela, Ângela, Ângela

E assim,  vou ficando por aqui nesse primeiro post musical, recomendando a quem conhece, e faz tempo que não ouve, que aproveite para ouvir novamente, e a quem não conhece, que deixe de perder tempo, e ouça essa pérola, esse grande "Rabisco Musical"

terça-feira, 29 de março de 2011

Espectro



Vejo através de um vidro embaçado,
A chuva só piora, os pingos são grossos
Ao meu lado, ninguém
A minha frente o futuro
Incerto e perigoso, inseguro como a estrada
Preciso desviar, contornar, me conter
Dar asas a todos os desejos, seria o caos
Inspiro, expiro… é preciso calma
Molho o rosto, escovo os dentes
Já é tarde, mas dá a sensação
Que tudo começa outra vez
Como se o sol tivesse acabado de despontar
Como se ali ao lado, estivesse o mar
Não está. Nunca esteve
A fúria das ondas está dentro de mim
O tornado lá fora é um espectro
Fito o teto, como se o céu fitasse
Como se todas as respostas
Lá em cima estivessem, apenas a minha espera
Não era para ser assim, não era
A estrela que agora observo
Já lá não está, há muito tempo
Assim como eu.

Mateus Medina
29/03/2011

segunda-feira, 28 de março de 2011

Medo do Escuro




Em poucos minutos, viajo no tempo
Revejo o passado, prevejo o futuro
Escondo lembranças, sorrio e lamento
De por tanto tempo, ter medo do escuro

As luzes se acendem, agora é pra valer
Do medo do escuro eu sinto saudade
Me lembro de um tempo, que era só viver
Sem se preocupar, se era sonho ou verdade

Em poucos minutos, revivo esses anos
E é tão estranho, intenso e insano
Que volto num choque, sem rumo, sem plano

Seguir e crescer, obrigação de vencer
Nessa vida selvagem, nesse rio sem margem,
É como a dor do nascer, que é igual a morrer.

Mateus Medina
28/03/2011

sábado, 26 de março de 2011

Submersão



Fugir para dentro de si mesmo
Tem efeito igualmente nefasto
A deixar correr à esmo,
A não governar o barco

Sem destino, sem rumo, sem leme
Não se alcançam os reais desejos
Sem enfrentar aquilo que se teme
És refém do medo, estás preso

Se mergulhas num mar de reflexão
Faça-as, pelo tempo necessário
Não ultrapasse os limites do são

Estar tempo demais submerso
Traz, como num triste verso,
A loucura, a morte, ou a prisão.

Mateus Medina
26/03/2011

quarta-feira, 23 de março de 2011

Afinal, é assim tão simples?




Como eu agora estou voltando a "blogar" (isso já virou verbo, mesmo?), tenho também visitado outras paragens, coisa que não fazia há muito tempo.

Numa dessas visitas, num blog que já não me recordo, me deparei com a imagem acima, que não contém qualquer novidade, mas, chama a nossa atenção, nos faz pensar.

O pensamento mais rápido que me veio a cabeça foi: "Nossa, é mesmo simples ser feliz, a gente complica tudo."

No fundo, é capaz de ser verdade, mas, há muitas coisas que desde o dia em que nascemos vão se acumulando, e ao longo do tempo, depois de uma certa idade, simplesmente impossibilitam essa tal simplicidade. Tudo isso junto pode ser resumido a "ser adulto".

"If you don't like something, change it."

É o sonho de todo mundo viver essa frase. Mas, afinal, é assim tão simples?

É claro que é de nossa responsabilidade, mudar o que não nos agrada. A vida é nossa, somente nós podemos assumir um papel ativo de mudança, e se deixamos a cargo de outrem, é também uma forma de agir na inação.

Só que nós temos "papeis" e responsabilidades na vida das outras pessoas. Não vivemos sós.

Quando mudamos algo radicalmente, muitas vezes afetamos tudo ao nosso redor, e isso é bom, de fato, é ótimo.

No entanto, me pergunto qual será o "limite" entre o nosso desejo de mudar, e o que a nossa mudança pode acarretar ao outro.

Provavelmente o pensamento mais lógico é que, se o outro não mudar junto, problema dele, mas, o limite de cada um é diferente, então fica a pergunta: Até que ponto adiamos para mudar enquanto "esperamos" pelo outro? Até que ponto isso é um ato de compreensão, caridade, ou coisa que o valha? Quando passa disso a covardia e acomodação?

"If you don't like your job, quit."

Isso queríamos todos nós. Mas, afinal, é assim tão simples?

Uma das implicações do "ser adulto" é essa. Não sei se a maior delas, mas, das maiores, com toda certeza.

A responsabilidade de prover o dia de amanhã, desde um teto para descansar a moringa, passando pelo alimento, até as "necessidades" da vida moderna, que em tempos mais remotos nem sequer existiam.

Todo mundo gostaria de dar um chute na bunda de um trabalho que não gosta, mas, entra sempre o famoso "e se", em questão.

São muitos os "ses" que permeiam a mente de uma pessoa, antes de dizer "chega" a um trabalho que não gosta. Não parece assim tão fácil, nos tempos que correm, dizer simplesmente que a partir de amanhã já não trabalho, vou procurar outra coisa.

Por outro lado, a infelicidade de estar em um trabalho que não se gosta, é algo que afeta a nossa vida diariamente, algo que nos mina a energia e a vontade de levantar de manhã e sair de casa, e isso é muito perigoso.

O que mais uma vez me faz pensar nos "limites". Qual será o limite para se perceber o momento certo de tomar coragem, dar um pé na bunda do nosso trabalho chato, correndo os riscos dos "ses"?

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Há nesta imagem mais um monte de frases que podem gerar páginas de reflexão, de momento, vou me concentrar nessas, talvez por serem as mais "inquietantes", ou simplesmente para que esse texto não fique enorme e maçante.

Mateus Medina
23/03/2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

Escolhas Inertes

Eu quero ajudar, eu tento
Se não consigo, lamento
O pior, é que não esqueço
E então parece que não mereço

Mas, não sou eu quem deve merecer
Quem merece ou não, e então padece
É aquele que se mexe (ou não) para ter

Estou sempre a pensar como mudar,
Coisas que simplesmente não irão
Se hoje irás rir ou chorar
Não será pelas minhas mãos

Mas, não sou eu quem deve mudar
Quem se renova ou não, pondo-se à prova
É aquele que se mexe (ou não) para alcançar

Creia, não sou eu quem irá ditar
Os caminhos a seguir, ou a estagnação
Quando escolhemos não caminhar,
Estamos parados em alguma direção

Mas, não sou eu quem deve escolher
Quem escolhe ou não, e então colhe
É aquele que se mexe (ou não) para viver

Mateus Medina
21/03/2011

segunda-feira, 14 de março de 2011

O Princípio do Fim

Hoje ao acordar, tinha uma ideia em mente
Passaram-se algumas horas, e continua aqui presente
Espero que ao findar do dia, ainda comigo esteja
Em meio a tantas dúvidas, tenho apenas uma certeza

Irei brigar com a natureza, com o natural, com o “normal”
Que é entregar-se a omissão, deixar que leve o vendaval
Quantas batalhas forem necessárias, todas elas, lutarei
Se vivo eu estiver, ao fim do primeiro dia, amanhã cá estarei

E assim no próximo dia, mais fácil espero ser
Domar essa angústia, essa dor tão lancinante
Quando se puser o sol, já não terás mais poder

O poder há de ser meu, sou eu quem manda aqui
Na minha mente, paira aquilo que desejo
Digo-te, com toda a certeza, hoje é o princípio do teu fim.

Mateus Medina
14/03/2011

quarta-feira, 9 de março de 2011

Soneto de uma Solidão Compartilhada

A solidão vem de dentro
Por vezes massacra, fere, faz doer
Outras vezes traz certo acalento
E mesmo uma sensação de poder

Estamos sós, nascemos sós
E como pensas que morreremos?
Cada caminho, como único que é
Traz consigo a solidão que conhecemos

Se escolhemos partilhar, matamos a solidão,
Se estamos juntos e não partilhamos
Continuamos sós, não merecemos perdão

Seja amor, paixão ou dor, que se divida
Até mesmo a solidão, se dividida,
Sem opção, vai-se embora, toda partida.

Mateus Medina
09/03/2011

segunda-feira, 7 de março de 2011

Na Corda Bamba

Na corda bamba, foi sempre assim
O risco, a dúvida, o medo,
Não importam muito para mim
Desde que eu saiba o teu segredo
Quando as luzes se apagam,
Mesmo quando não há neblina
É difícil observar os teus olhos
Não sei se já estás aqui, ou se ainda vens na esquina
Teus negros olhos, guardam o segredo da vida
Assim como o segredo da morte
Que só revelas ao mais forte
No exato momento da despedida
Em teu esplendor, há dualidade
Há música e paixão, há amor de verdade
Mas, a tristeza coabita, cercada de muita dor
Dentro do poço do nada, na ausência completa de amor
O teu beijo me aquece, ou arrefece
Há dias, há noites, há guerra
Persisto na curiosidade macabra
E a encaro, com tudo que em si ela encerra
Descobrir, descobrir, descobrir…
Ou amar, amar, amar…
Segredos e amores por vezes se matam
É preciso saber por onde andar.

Mateus Medina
03/03/2011

O retorno do que nunca foi...

Esta deve ser a minha terceira tentativa no mundo dos blogs.

Da primeira vez, publiquei uma meia dúzia de poemas e o Blog ficou esquecido - já deve fazer uns 8 a 10 anos -, da segunda vez, fiz três posts e perdi a senha, acabou por cair também no esquecimento...

Enfim, "here I go again", como diria o Tio Coverdale...

A verdade é que eu me empolgo com essa coisa de blog, mas, depois perco a motivação de postar...

Vou tentar encarar este a apenas como um "arquivo" daquilo que eu for escrevendo ao longo do tempo, e mais nada... talvez assim funcione, ou não...